quarta-feira, maio 10, 2006

A Coluna por ... Mafalda Azevedo do blog Mise en Abyme

Pele


Vivem-se os anos 70 e a Lisboa que testemunhamos é uma capital rica e bem nascida. A nossa protagonista chama-se Olga e é uma estudante universitária que se distingue pela sua ambição e pelo facto de a sua pele não ser branca. Fruto de uma relação adúltera entre o pai e uma mulher africana, Olga desconhece a identidade da mãe.
A premissa não é original e é facilmente narrável: Olga sente que não pertence ao mundo onde foi criada e parte numa espécie de viagem rumo à sua verdadeira identidade. Durante esta jornada, ingressa no mundo do teatro e transforma-se numa vedeta de um espectáculo musical.

Pele, o mais recente filme de Fernando Vendrell, corria sérios riscos de ser mais uma história banal para arrumar na prateleira do cinema português. Se assim não aconteceu, foi porque Fernando Vendrell soube munir-se de três mais-valias importantes: a expressão corporal de Daniela Costa, as canções de JP Simões e de Sérgio Costa e a banda sonora original dos Hipnótica.
De cada vez que a câmara de Vendrell regista a presença de Daniela Costa num plano, assistimos a uma explosão de cor e ritmo em que nenhum pormenor foi deixado ao acaso. As cores dos vestidos e dos adereços associam-se à sensualidade da actriz e criam uma presença humana que surpreende e fascina. E aqui, no uso da cor ao longo do filme, reside quase todo o interesse deste Pele. De tanto que se fala nela e de tanto que nos cruzamos com ela, podemos quase afirmar que a cor é também uma personagem nesta película.
Mas não é só de cor que vive este filme. Há toda uma componente musical, muito superior à maior parte dos diálogos, que comunica com os espectadores e cria alguns dos momentos mais melancólicos do filme. Para quem já conhecia o trabalho de JP Simões como vocalista dos Quinteto Tati e dos Belle Chase Hotel, eis uma oportunidade para constatar como a singularidade deste músico também funciona em cinema.

Mafalda Azevedo

1 Comments:

At maio 10, 2006 11:23 da tarde, Blogger Francisco Nogueira said...

Tenho que ir ver o filme. Fiz figuração numa cena, e portanto segui um dia de filmagens. Estou com bastante curiosidade de ver como resulta em cinema.

 

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